O mercado caminha a passos largos para a banalização e entre as operações plásticas mais procuradas, "a mais realizada é a lipoaspiração (retirada de gorduras), seja a convencional ou não". Embora "a procura das próteses de mama comece a ficar próxima da lipo", garante o cirurgião plástico, Ângelo Rebelo. A média das idades alterou-se. Tal como acontece desde há um tempo no Brasil. Ali, naquele que é considerado o paraíso do turismo da plástica, onde cerca de 30 mil pessoas vão exclusivamente para fazer tratamento estético, a clientela com menos de 18 anos chega aos 13 por cento do total dos pacientes (sete vezes mais que nos Estados Unidos). Embora estejamos a anos-luz desta projecção, no nosso país também se verifica a mesma tendência. Uma realidade que não choca o especialista. "Não trabalho com o bilhete de identidade. O meu critério para operar passa por submeter os pacientes a uma consulta, em que se avalia se quer e se pode, tendo em conta as técnicas realizadas. Não me interessa se a pessoa tem 18 anos ou não. Importa se clínica e humanamente, o corpo já sofreu as transformações devidas em termos de maturidade e crescimento. Sabemos que às mulheres de 16 anos, a mama não vai crescer, nem mirrar ou mesmo desenvolver-se mais do que isso", diz o director clínico da Clínica Milénio. "Há partes do corpo em que se definem os crescimentos e a maturidade antes dos 18. Não faz sentido que uma adolescente, de 16, tenha umas mamas com um peso brutal e tenha que as suportar durante não sei quantos anos, à espera de fazer 18 ou dum hipotético casamento, que não vai acontecer porque tem a mama grande e não socializa. E o inverso também acontece: a mama demasiado pequena, também as faz sofrer e altera-lhes a vida", acrescenta. E há casos extremos. "Lembro-me de ter feito uma plástica a uma jovem de 14 anos que precisava mesmo de ser ajudada, com a autorização dos pais e o apoio dos médicos, que a seguiam na parte de endócrinas (o sistema endócrino é formado pelas glândulas que produzem as hormonas)", recorda.
Curiosamente, como em quase tudo, nas plásticas também há modas. "Mesmo sem querer, são criados padrões de beleza a que as pessoas vão querendo assemelhar-se." Actualmente, "o 'padrão' de corpo não passa tanto pela mulher escanzelada. E a mama já não é tão pequena", diz o médico de 55 anos. Gostos e tendências que, ainda segundo a opinião do cirurgião, independentemente da moda, prende-se com o ser humano. "Inconscientemente, somos influenciados por imagens que nos aparecem a toda a hora. É uma reacção normal." Será?
Para a psicóloga Sandra Santos, "de um modo geral, a tendência para padronizar não é normal. Quando se é saudável, as escolhas são mais variadas". Caso contrário, resultam algumas limitações. E se na década de 90, a plástica era tida como capricho de "dondoca", hoje é a mulher de classe média, empregada e com filhos, que mais se sacrifica para realizar essa vontade de modificar a aparência física. Mas atenção, os homens não se ficam atrás. A procura deles "aumentou e muito", garante Ângelo Rebelo. E eles também recorrem às plásticas para retirar o indesejável pneu. "Ao homem mais novo, o que incomoda é a localização de gordura na barriga, flanco e mama."
À medida que a idade vai avançando, as preocupações passam a ser outras, como "os papos dos olhos, as rugas e a calvíce", acrescenta. Apesar da ala masculina seguir a tendência, continuam a ser as mulheres a comandar em todos os aspectos. Até nos retoques dos orgãos sexuais. O mercado acarreta uma série de técnicas avançadas que permitem embelezar e até, dizem, melhorar o desempenho sexual. Há de tudo, portanto. Todavia há um aspecto controverso que continua fiel aos primórdios desta área da cirurgia. Em Portugal, mantém-se o preconceito em assumir. Tudo porque "ainda há pessoas que são condenadas e não é fácil terem apoio. Tenho doentes que me confessam fazer a operação plástica contra a vontade desta ou outra pessoa. 'Não faças isso porque te vai acontecer isto ou aquilo.' É uma questão cultural. A nossa cultura vive à volta do dramatismo. Não somos um povo alegre e mudar pensamentos leva o seu tempo".
QUANTO CUSTA A PERFEIÇÃO
Aumentar o peito e retirar gorduras a mais estão entre as cirurgias plásticas mais recorrentes em Portugal. Mas muito mais se pode fazer para embelezar o corpo e até já há clínicas que dão facilidades a clientes com carteiras menos recheadas.
1. Mamoplastia de Redução: Cirurgia para diminuir o tamanho das mamas
- 4000 a 5500 euros
2. Mamoplastia de Aumento: Cirurgia para aumentar a mama
- 4000 a 5000 euros
3. Abdominoplastia Simples: Cirurgia para remover pele e gordura da parte inferior do abdómen (barriga)
- 1250 a 2500 euros
4. Lipoaspiração do abdómen
- 3500 euros
5. Lipoaspiração das Coxas
- 4000 euros
6. Vibroliposucção: Técnica para remover gorduras através de pequenas incisões
- 3500 a 4000 euros
7. Lifting Facial
- 4000 a 6000 euros
8. Blefaroplastia: Remoção de bolsas e/ou pele em excesso nas pálpebras
- 2500 euros
9. Otoplastia: Operação para corrigir malformações das orelhas
- 2000 a 3000 euros
10. Rinoplastia: Operação para corrigir deformações do nariz
- 3000 a 5000 euros
11. Lipoaspiração do Pescoço
- 1800 euros
PROCEDIMENTOS CIRÚRGICOS COMBINADOS MAIS FREQUENTES
- Lipoaspiração do abdómen + Lipoaspiração das Coxas = 6500 euros
- Mamoplastia de Aumento + Lipoaspiração do Abdómen = 7500 euros
- Mamoplastia de Redução + Blefaroplastia = 8500 euros
NORTE-AMERICANOS ESTÃO NO TOPO
De acordo com dados da Internacional Society of Aesthetic Plastic Surgery (ISAPS), à frente do ranking mundial das cirurgias estéticas estão os Estados Unidos da América, com 16,35 por cento de todos os procedimentos realizados em todo o Mundo.
Ocupando a segunda posição, o Brasil lidera o segmento de procedimentos estéticos, um campo onde as lipoaspirações e os implantes mamários, são as intervenções mais procuradas.
Na Europa, Espanha foi o país que registou o maior aumento de cirurgias plásticas.
Em Portugal, sabe-se que a procura tem aumentado. Mas nem a Sociedade Portuguesa de Cirurgia Plástica Reconstrutiva (SPCPRE), nem o Serviço Nacional de Saúde (SNS) dispõe de dados que permitam apurar, com exactidão, o total de cirurgias realizadas entre as clínicas privadas e os hospitais públicos.
MÉDICO DE VEDETAS
Habituado a lidar com uma clientela mediática, Ângelo Rebelo confessa ter cuidados redobrados com as figuras públicas. "Têm uma preocupação acrescida, porque a imagem é importante na sua profissão. Não podem deixar-se envelhecer muito, nem sofrer grandes alterações corporais."
Por essa razão, quando é abordado por esses pacientes, reconhece que tem especial atenção. "Usam-se técnicas com muita cautela, temos de ser ainda mais prudentes. Nenhuma figura pública está interessada em fazer um retoque no rosto para evitar o descair ou aparecimento de rugas e que seja notado. Uma cirurgia estética para estar bem-feita, as pessoas comuns do lado de fora, não se devem aperceber que foi feita", defende.
Baseado em texto de: SORAIA TEIXEIRA
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