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quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Premiar o disparate


A Coca-Cola é um espermicida eficaz. E o ciclo de fertilidade das strippers afecta a quantidade de gorjetas ganhas.



Todos o sabíamos mas a ciência veio finalmente prová-lo... arames, cordéis e cabelos reunidos em molhos acabarão por enredar-se em nós, aconteça o que acontecer. É uma das dez pseudodescobertas distinguidas este ano com o não muito honroso prémio IgNobel. Depois da atribuição dos galardões deste ano, na Universidade Harvard, ficamos a conhecer alguns outros factos igualmente irrelevantes. Por exemplo, que a Coca-Cola é um espermicida altamente eficaz. E que o ciclo de fertilidade das strippers afecta a sua capacidade para conseguir boas gorjetas. Mais importante e útil ainda: que as pulgas dos cães saltam bem mais alto que as dos gatos.

No dia da cerimónia, Toshiyuki Nakagaki e os seus colegas cantaram orgulhosamente o discurso de aceitação do prémio. Afinal, foram eles que conseguiram provar que as amibas se orientam em labirintos e conseguem resolver puzzles.

A crucial decisão sobre quem ganha os IgNobel cabe à revista de ciência e humor Annals of Improbable Research (Anais da Pesquisa Improvável, em http://improbable.com/)

Ver três cientistas japoneses a cantar um discurso numa cerimónia pode parecer um pouco bizarro. Mas o seu trabalho em torno das amibas, tal como todos os outros IgNobelizados, era absolutamente real, mesmo que muito disparatado. Foi editado numa publicação científica verdadeira, neste caso o prestigiado jornal Nature.

Charles Spence - da Universidade de Oxford - arrasou na área da Nutrição, mostrando que o sabor dos alimentos é afectado pelo facto de os ouvirmos ou não estalar. "Quando você está a comer Pringles, se modificarmos o som que elas fazem ao ser comidas, também alteramos a forma como lhe sabem: determinamos em que medida sabem a frescas ou a estaladiças", informou. E esclareceu ainda que "usamos o som de bacon a ser frito para afectar o paladar de gelados de bacon e ovo. Quando se passa esse ruído nos altifalantes de uma sala, o gelado vai saber mais a bacon do que se as pessoas estiverem a ouvir as galinhas de uma quinta".



PULGAS, ARMADILHOS E AMIBAS ORIENTADAS



Será ciência ou puro disparate? A lista dos premiados do IgNobel deixa-nos na mesma em relação a essa dúvida...




  • Economia: Geoffrey Miller, Joshua Tyber e Brent Jordan, por descobrirem que o ciclo de fertilidade das strippers afecta a sua capacidade para conseguir boas gorjetas.

  • Arqueologia: Astolfo Gomes de Mello Araújo e José Carlos Marcelino, por demonstrarem que os armadilhos (mamíferos desdentados da ordem dos tabus) podem revirar de pernas para o ar todo o conteúdo de um local de escavações arqueológicas.

  • Paz: O Comité Ético Federal Suiço de Biotecnologia Não Humana e os cidadãos da Suiça, por adoptarem o primeiro legal de que as plantas têm dignidade.

  • Química: Sheree Umpierre, Joseph Hill e Deborah Anderson, graças aos quais sabemos agora que a Coca-Cola é um eficaz espermicida (prémio partilhado com C.Y. Hong, C.C Shiel, P. Wu e B.N Chiang, que provaram o oposto).

  • Literatura: David Sims, pelo seu irado estudo Seu Filho da Mãe: Uma Exploração Narrativa da Experiência da Indignação dentro das Organizações

  • Nutrição: Massimiliano Zampini e Charles Spence, pelo seu estudo provando que a comida sabe melhor quando é estaladiça e faz barulho

  • Física: Dorian Raymer e Douglas Smith, por nos darem a certeza de que os molhos de cabelos, cordéis, arames ou quase qualquer outra coisa acabarão, inevitavelmente, por enrolar-se e formar nós.

  • Biologia: Marie-Christine Cadiergues, Christel Joubert e Michel Franc, por nos explicarem que as pulgas dos cães conseguem saltar mais alto que as dos gatos

  • Medicina: Dan Ariely, por revelar que a medicina falsa cara é mais eficaz que a medicina fraudulenta barata

  • Ciência Cognitiva: Toshiyuk Nakagaki, Hiroyasu Yamada, Ryo Kobayashi Atsushi Tero, Akio Ishiguro e Agota Toth, por tornarem claro que as amibas conseguem orientar-se em labirintos e resolver puzzles.


Baseado em Texto de: VASCO VENTURA



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