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segunda-feira, 27 de outubro de 2008

COMO SOBREVIVER À CRISE


"Saiba gerir o seu dinheiro e viver de acordo com o que tem." É a regra dourada para resistir aos tempos mais duros que se avizinham, segundo Natália Nunes, responsável pelo Gabinete de Apoio ao Sobreendividado da Deco. É necessário, alerta, ter clara consciência de quanto se ganha, quanto se gasta e onde. "Só assim poderá reduzir as despesas."
A jurista aponta os erros mais frequentes em que incorrem os consumidores. "Não têm em conta a taxa de esforço, que nunca deve ultrapassar os 40%". Além disso, "quando o dinheiro não chega contraem novo empréstimo, para pagar a prestação da actual. E não contactam a instituição de crédito quando têm alguma dificuldade."
Este ano, pediram ajuda à Deco mais de 5600 sobreendividados. Foram abertos 1300 processos, que já estão a levar ou ainda vão conduzir a contactos com as instituições de crédito. A meta é reestruturar todos esses empréstimos.
O desemprego é a principal causa do endividamento excessivo. Para lá da doença e do divórcio, motivos minoritários, há uma nova razão que já é responsável por 10% das situações: o aumento da taxa Euribor. Só que, "antes de estes acontecimentos surgirem, as referidas famílias já estavam endividadas além do recomendável."
Natália Nunes considera positivas as medidas que os Governos têm annciado nos últimos dias contra a crise económica. E também acredita que "os portugueses podem ficar descansados em relação às suas poupanças, graças às garantias dadas pelo ministro das Finanças, pelo Banco de Portugal e pelas outras instituições bancárias. São protecções que vão para além das legalmente obrigatórias."
O sistema económico mundial "vai sobreviver". Mas o que se provou é que "é necessário fazer alterações. É preciso que haja organismos reguladores fortes e competentes. Um dos problemas foi que as entidades de regulação não actuaram como deviam. Deviam ter estado muito mais atentas e exercer mais funções."
Ainda tem dinheiro disponível? Não comece por investir em produtos de poupança, e menos ainda em acções (especialmente se não é bastante experiente neste sector). João Sousa, economista e responsável pela Proteste Poupança, explica que "é mais vantajoso liquidar (mesmo apenas em parte) os créditos que já tem. É melhor do que investir esse dinheiro, ou aplicá-lo em produtos de risco".
Quem faz qualquer tipod e investimento "deve saber se tem a garanti mínima do capital": se irá sempre reaver o que investiu, quando, quanto e como. Também precisa de perceber se o prazo "é adequado ao seu perfil. Se comprar acções, nunca perspective um prazo menor do que cinco anos. Não é realista, devido à enorme volatilidade dos mercados". Antes de qualquer investimento, "tem que informar-se sobre a liquidez: a facilidade em transformá-lo em dinheiro à vista sem custos elevados".
Existem "uns seguros a cinco anos e um dia, ou oito anos e um dia. Garantem o capital no fim do prazo. Se, entretanto, precisar do dinheiro, pode reaver parte... Com custos de reembolso muito elevados. Que podem ser de três, quatro, cinco por cento ou outro valor. E o capital demora muitos dias a ser disponibilizado".
João Sousa sublinha que, para qualquer tipo de compra, se devem procurar as melhores condições, percorrendo as várias instituições. "Basta pensar num depósito de mil euros a 12 meses. A taxa líquida varia entre 0,3% e 4,8%."
O economista recorda que a crise económica mundial começou nos Estados Unidos, com o mercado subprime. Trata-se de créditos concedidos a famílias de baixos recursos, que já se sabe serem muito dificilmente cobráveis - têm uma elevadíssima possibilidade de incumprimento. Depois, esses créditos foram compactados em produtos financeiros das instituições bancárias, e vendidos a outros bancos, numa tentativa de passar para outros o risco. Quando as condições económicas se agravaram e quase todas as tais famílias desfavorecidas deixaram de pagar as prestações, deram-se as falências bancárias em catadupa: o sistema financeiro começou a ruir como peças de dominó ou um castelo de cartas. João Sousa concorda com Natália Nunes. "Falta regulação. Não houve vigilância apertada a esses produtos financeiros 'tóxicos". Caso contrário, talvez se tivessem evitado alguns males." Numa entrevista ao Daily Show de Jon Stewart, o antigo presidente norte-americano Bill Clinton ajudou a esclarecer as razões da crise. Nos anos 90, com a explosão de optimismo dos negócios da Internet, passou a haver uma enorme quantidade de liquidez nos mercados. E o único investimento que existia para absorver esse dinheiro era a habitação. Prosperaram as concessões de crédito subprime, em vez de essas verbas terem sido usadas para criar outros negócios, empresas e emprego. O resto da história está à vista.


QUANTO É QUE POUPAMOS


Há grandes diferenças na Europa. Mostramos o excedente comercial e os rendimentos mistos de 27 países da União Europeia. O excedente comercial é o excedente em actividades de produção antes de juros, rendas e impostos.

Os rendimentos mistos representam a remuneração pelo trabalho das empresas.



  1. Reino Unido:
    Milhões de Euros: 711880,1
    Percentagem do PIB: 34,8

  2. Irlanda
    Milhões de Euros: 90963,0
    Percentagem do PIB: 47,7

  3. Bélgica: 129017,8 / 38,5

  4. Luxemburgo: 15914,3 / 43,9

  5. França: 661542,0 / 35,0

  6. Portugal: 56254,9 / 36,2

  7. Espanha: 444852,0 / 42,3

  8. Áustria: 111967,3 / 41,3

  9. Itália: 694084,2 / 45,2

  10. Malta: 2374,7 / 45,2

  11. Eslovénia: 12928,7 /37,5

  12. Rep. Checa: 61166,6 / 48,1

  13. Grécia: 124517,0 / 54,6

  14. Chipre: 5711,6 / 38,9

  15. Bulgária: 13926,6 / 48,2

  16. Roménia: 49537,1 / 50,7

  17. Hungria: 40863,8 / 40,4

  18. Eslováquia: 29364,8 / 40,4

  19. Polónia: 139220,5 / 51,2

  20. Lituânia: 12789,1 / 45,0

  21. Letónia: 7830,7 / 39,3

  22. Estónia: 6228,7 / 40,8

  23. Finlândia: 73572,0 / 40,9

  24. Suécia: 100564,6 / 30,3

  25. Dinamarca: 70168,0 / 30,8

  26. Alemanha: 958960,0 / 30,6

  27. Holanda: 221309,0 / 30,0


ALIVIAR O ORÇAMENTO



  • Faça o orçamento familiar mensal. Coloque de u lado o que ganha e do outro tudo, mas tudo o que gasta. Não despreze as pequenas coisas, tendência frequente de quem faz o orçamento. A partir desde precioso papel, observado com olhar crítico, vai perceber onde gastar menos;

  • A poupança não deve ser aquilo que sobra no fim do mês. Defina um valor, um objectivo. Uma quantia X que deverá poupar todos os meses;

  • Idas ao supermercado: compare os preços. Escreva tudo: leve uma lista de compras exacta e concreta. Estipule o valor que vai gastar e não use nem um cêntimo a mais;

  • Tenha sempre, posto de lado para uma emergência, no mínimo cinco a seis vezes mais do que o seu rendimento;

  • Faça comparações e opte pelo combustível mais barato. Apesar de tudo, ainda há algumas diferenças;

  • Pequenos truques domésticos podem ajudá-lo. Não deixe as torneiras pingar, não esteja sempre a abrir e fechar o frigorífico, use lâmpadas economizadoras e bicos de gás adequados para cada tacho específico;

  • Faça as operações bancárias online, e não ao balcão;

  • Em relação à restação da casa: veja o que paga hoje e há quanto tempo fez o crédito. Perceba se a prestação e o spread estão de acordo com os actuais valores de mercado. Vá ao seu banco pedir uma simulação e negociar;

  • Uma vez que deve ter mais créditos além do habitacional, veja o peso do total de prestações no seu orçamento. No conjunto, não podem exceder 40% do rendimento. Se ultrapassarem, vá ao banco e negocie;

  • Se tem carro, tem seguro. Peça simulações todos os anos, negocie e escolha o mais vantajoso.


Baseado em texto de: VASCO VENTURA


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