"Vemo-nos sem a mama ou parte dela... Ninguém está à espera. É complicado, é preciso lutar com todas as forças." Conceição Matos, coordenadora do Movimento Vencer e Viver (MVV, que faz parte da Liga Portuguesa contra o Cancro) é uma das muitas mulheres que tiveram cancro na mama e sobreviveram. Recorda as dificuldades da doença, que sofreu e venceu há 14 anos. Entre elas, a redução de auto-estima que atinge estas mulheres. "Mesmo que a mama seja reconstruída já não é a mesma, porque não existem duas iguais. Sentimos a diferença física e pensamos: 'Será que se percebe?'. Na verdade, só nós é que vemos." A responsável explica que " temos de nos adaptar a um novo eu, perceber que continuamos inteiras. Não pensamos nisso até à cirurgia. Mas o facto é que somos a mesma mulher, com os mesmos sentimentos, apenas encarando a vida de uma forma um pouco diferente. Temos de compreender que ainda somos bonitas depois disso. Há um período de recuperação da auto-estima." Um dos muitos serviços de apoio prestados pelo MVV (associação constituída por sobreviventes da patologia, contactável em http://www.vencerviver.dpp.pt/ ou pelo número 217265786, no IPO de Lisboa) consiste em ajudar a mulher a escolher a prótese temporária ou definitiva que lhe fica melhor. Isto quando optam por não fazer a cirurgia reconstrutiva. "Muitas preferem a prótese. Podem encontrar o seu novo eu através da prótese ou da reconstrução. Há cirurgias óptimas e próteses excelentes. Essa escolha é pessoal."
Seja como for, sublinha que o MVV consegue ajudar as pacientes numa das suas maiores necessidades: "Saber que não estão sozinhas, e que outras já passaram pelo mesmo." Ontem, Sábado, das 10h00 às 12h30, a associação fez uma acção de sensibilização na Trafaria, na praça onde se localiza a igreja. Amanhã, Segunda-feira, às 21h00, também na Trafaria, o local escolhido para outra actividade de consciencialização será o auditório da Junta de Freguesia.
Nesta doença, um atendimento muito personalizado e humano é fundamental. É o que nos diz Verónica Albuquerque Rufino, presidente da Associação Portuguesa de Apoio à Mulher com Cancro da Mama (APAMCM, contactável em www.apamcm.org/ ou pelo número 217585648, no Colégio das Doroteias, no Campo Grande). A dirigente da organização de profissionais de saúde volentários, especializados neste problema de saúde, acredita que ele pode afectar as mulheres de forma muito diferente. "Se o contexto económico, social, profissional, afectivo e familiar for excelente, ela poderá superar tudo mais facilmente. Mesmo que a situação seja mais grave do que muitas outras. Se não tem apoio na família, no trabalho, se há um desequilíbrio geral em todos esses campos, fica bastante fragilizada. Precisará de uma ajuda maior."
Para qualquer um dos casos, a APAMCM fornece serviços completos: enfermeiros, médicos, ginecologistas, nutricionistas, psicólogos (com aconselhamento individual ou em grupo) e actividades lúdicas complementares. Não é a única. A Associação Laço (http://www.laço.pt/; 213244203; 919191446) é outra das organizações não governamentais que actuam nesta área.
"O diagnóstico deve ser feito o mais cedo possível, o que aumenta substancialmente a hipótese de sobrevivência", salienta Vítor Rodrigues. O professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra insiste na importância do auto-exame mensal e do acompanhamento regular pelo ginecologista e pelo médico de família. "Numa grande parte dos casos, os sinais detectados pela mulher não significam que tem cancro. Mas também pode ter. E podendo existir, é obrigatório recorrer ao médico, fazer a mamografia e a ecografia, que irão esclarecê-la. Se for um tumor maligno, o importante é fazer o disgnóstico a tempo. A taxa de cura do cancro na mama, se detectado precocemente, é de 95%."
Em Portugal, esclarece, temos vários tipos de tratamento que se encontram no resto do mundo. E que "São escolhidos de acordo com o tipo de tumor, com o facto de ter ou não invadido os gânglios próximos, e com todas as suas características. A mulher é colocada num protocolo terapêutico específico, de acordo com a actuação necessária para o seu caso individual".
O facto de ter de recorrer à quimioterapia "não quer dizer, por si só, que se trata de um cancro grave. Pode fazer-se quimioterapia para um cancro pequeno e não se fazer para um grande. Depende das características dos tecidos do tumor, dos receptores hormonais...Se estes não respondem à quimioterapia, por exemplo, não vale a pena utilizá-la".
O especialista considera que a doença também pode ser muito difícil de aceitar para os maridos e os filhos. "Mas se lhes dermos apoio e explicarmos a situação, será muito mais fácil lidarem com ela. Se os ampararmos, tornam-se num dos elementos mais importantes no combate à doença."
QUEM CORRE MAIS PERIGOS?
- IDADE: Uma mulher com mais de 60 anos está mais exposta ao risco do que uma mais nova. A dornça acontece menos antes da menopausa;
- ANTECEDENTES: Se já teve a doença numa mama, tem maior probabilidade de ter na outra;
- RAÇA: Mulheres brancas têm mais risco;
- FAMÍLIA: O facto de haver casos familiares da patologia (mãe, tia, irmã, especialmente antes dos 40; outras familiares...) aumenta o perigo;
- GENES: Alguma alterações genéticas podem tornar mais provável o cancro da mama. Quando são detectadas modificações, por exemplo nos genes BRCA1 e BRCA2, é possível tentar fazer diminuir o perigo ou acelerar o diagnóstico precoce;
- Quando a primeira gravidez ocorre já depois dos 31 anos;
- CICLOS MENTRUAIS: Quem teve a primeira menstruação (menarca) antes dos 12 anos e a menopausa depois dos 55, ou nunca teve filhos, está mais exposta;
- TERAPÊUTICA HORMONAL DE SUBSTITUIÇÃO: Quem recorre a ela, só com estrogénios ou estrogénios e progesterona, tem mais probabilidades de sofrer da doença;
- RADIOTERAPIA NO PEITO: A presença de tecido denso (não gordo) na mama em mulheres mais velhas é um sinal de risco;
- OBESIDADE PÓS-MENOPAUSA: É também um factor de risco;
- SEDENTARISMO: O exercício físico ajuda a diminuir o perigo, evitando o aumento de peso e a obesidade;
- ÁLCOOL: O excesso de álcool também é considerado uma possível causa.
DETECTÁ-LO E TRATÁ-LO
PREVINA-SE
- Faça um auto-exame das mamas mensalmente, após o período menstrual;
- Vá ao especialista nesta área uma vez por ano;
- Participe em programas de rastreio.
SINTOMAS COMUNS
- Aparecimento de nódulo/endurecimento da mama ou debaixo do braço (na axila);
- Mudança do tamanho ou formato da mama;
- Alteração na coloração ou na sensibilidade da pele da mama ou da aréola;
- Corrimento pelo mamilo, com ou sem sangue;
- Retracção da pele da mama ou do mamilo.
TRATAMENTO
- CIRURGIA: Retirar o tumor da mama e os gânglios linfáticos da axila. É através deles que o cancro pode alastrar;
- RADIOTERAPIA: Utiliza raios de alta energia que destroem as células cancerosas e impedem que se multipliquem;
- QUIMIOTERAPIA: Utilização de drogas que destroem as células malignas. Podem ser aplicadas através de injecções intramusculares, endovenosas ou por via oral;
- HORMONOTERAPIA: Destina-se a impedir que as células malignas continuem a receber a hormona que estimula o seu crescimento. Pode incluir o uso de drogas, que modificam a forma de actuar das hormonas, ou cirurgia, que retira os ovários;
- REABILITAÇÃO: Complementa os métodos de tratamento. Inclui cirurgia plástica de reconstrução e serviços médicos de apoio (fisioterapia, psicologia).
Baseado em texto de: VASCO VENTURA
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