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domingo, 7 de dezembro de 2008

Conhece o Realizador mais Velho do Planeta?



O mestre, como lhe chamam, visto por quem já trabalhou com ele. "Genial" é um apelido várias vezes repetido.






Faz 100 anos sexta-feira. Foi o que nos levou a ir à procura da "sua" actriz, Leonor Silveira, musa dos seus filmes. Missão: descobrir que importância tem o realizador em Portugal e no Mundo. "Com Manuel de Oliveira não há "cá dentro" e "lá fora": é um grande mestre de cinematografia europeia e mundial. Pelo seu percurso, género e maneira de filmar. Começou na época do cinema mudo e continua nos dias de hoje. Atravessou todas as fases da sétima arte. Não é questionável a importância dele". O que não sabemos é se alguma vez se falará tanto de um cineasta português como do homem que dirigiu há meio século Aniki-Bobó. Ou se haverá continuadores do seu percurso. "Há sempre. Aqueles que aprenderam com ele. Que tomam por base a obra dele, que se formam - também - através da sua grandiosidade. Que a têm como fonte de inspiração."


O trabalho do nosso centenário mais prestigiado "é caracterizado pela capacidade para nos dar tempo para ter sempre um olhar sobre a literatua, a pintura, a música. Sobre a forma como o ser humano - o homem e a mulher - se ligam. Muitas vezes através desses três momentos (a literatura, a pintura e a música). E sobre a importância da mulher e do que ela representa nas sociedades".


Mas é um incompreendido. Aclamado no estrangeiro, é desconhecido e menos procurado dentro das nossas fronteiras. "Porque, durante muitos anos, houve um preconceito em relação ao acto de ver os seus filmes. Uma opinião generalizada pode não ser a verdade. As pessoas podem não ter visto os filmes e ter uma opinião negativa."


Chamada a participar nas películas de Oliveira, Leonor Silveira é uma das pessoas que podem defini-lo em poucas palavras. E é o que faz, dizendo-nos uma sintética frase - "O mestre". Se o mestre, então, nunca tivesse nascido, com certeza que o cinema português era diferente. "Mas seria, da mesma forma, válido e bom. Há muitíssimos realizadores nacionais, com a sua especificidade e maneira própria de criar. Haveria sétima arte portuguesa de qualquer forma, tão fortemente como ela existe. Embora Manoel de Oliveira traga uma luz específica. Mas os outros também têm a sua."


Sabe-se hoje mais sobre o realizador do que há 15 anos. Com este criador, podemos fazer muitas outras comparações. Como era a fábrica de sonhos do grande ecrã quando começou como actor (há oito décadas) ou mesmo como realizador de longas-metragens (há mais de cinco), e como é agora? "Hoje é uma indústria. As dificuldades são muito maiores! É ma arte muito mais cara. O cinema europeu tem dificuldades muito intensas."


A carreira deste símbolo nacional "é longa", concorda Lia Gama, que entrou em Francisca e Amor de Perdição "Ele começou muito tarde. Esteve anos e anos parado, depois das primeiras obras-primas. O que foi uma pena. Depois, recuperou o tempo perdido. Ainda bem que ele tem esta longevidade toda, e que é o realizador mais velho do activo."


Para esta actriz, todas as comparações são muito vagas. "É mau fazer analogias. Nenhum realizador conseguiu fazer tantos filmes como ele. Na minha geração, há muitos que trabalham bastante raramente. Há diversos que só o fazem de dez em dez anos." É por isso que afirma: "Quem dera que muitos deles pudessem, também, trabalhar todos os anos. Alberto Seixas Santos, por exemplo, é um grande cineasta que raramente está activo. Não vou dizer quais são as razões para isso acontecer, porque elas são óbvias. Não há um projecto de cultura nacional." Lia considera, numa visão pessoalíssima, algumas películas de Oliveira geniais. "Amo-as". Há outras de que não gosta, "definitivamente". As que prefere são, por exemplo, Francisca; Douro, Faina Fluvial; Vale Abraão. "As de temática duriense." Quanto a A Caixa, "detesto-a. Mas o defeito é meu. É como com certos escritores: adoro alguns dos seus livros, e outros não".


A actriz acredita que Manoel de Oliveira "é um homem que sabe muito bem o que quer. Tem uma inteligência extraordinária, e imenso charme. É mesmo um sedutor. Foi muito interessante trabalhar com ele, embora tenha sido pouco". Lia Gama está convencida que "está para descobrir pelas novas gerações" como seria o Planeta sem o criador de Aniki-Bobó. "Em 1981 fui a um festival de cinema em Locarno, na Itália. É um festival muito visitado pelos críticos europeus. Vi, lá, o Amor de Perdição. As bobinas tinham de ser mudadas constantemente, pelo que o filme estava sempre a ter intervalos. Mas os críticos não arredaram pé. Também eu adoro o Amor de Perdição. É belíssimo, belíssimo."


Mesmo assim, esforça-se por imaginar o cinema sem este mestre, mostrando a mesma visão que Leonor Silveira. "Teria havido o José Afonso e Costa, o António Pedro Vasconcelos, o João César Monteiro, o Pedro Costa, a Teresa Villaverde...Há outros. Ninguém é assim tão insubstituível por mais genial que seja. O dinheiro que foi utilizado nas películas dele faz falta a outros realizadores, que não conseguem fazer mais obras. Mas dou-lhe os parabéns. É um cineasta maravilhoso."






O QUE SABE...




1. Quem foi o "culpado" de Manoel de Oliveira se interessar por cinema?




a) A Mãe


b) O irmão, Casimiro de Oliveira


c) O Pai


d) Um amigo






2. Com que idade se inscreveu na Escola de Actores de Cinema?




a) 19 anos


b) 20 anos


c) 21 anos


d) 17 anos






3. O primeiro filme em que participou - como actor - foi:




a) Fátima Prodigiosa


b) Fátima Fabulosa


c) Fátima Maravilhosa


d) Fátima Milagrosa






4. A característica mais conhecida dos filmes de Manoel de Oliveira é:




a) A lentidão


b) A rapidez


c) A originalidade


d) A intensidade






5. Nos seus filmes, a câmara:




a) Está sempre a mover-se


b) Move-se quando os actores falam


c) Raramente se move


d) Move-se sobre as paisagens






6. Em 1993, participo no filme:




a) O Costa do Castelo


b) A canção de Lisboa


c) O Leão da Estrela


d) Pai Tirano






7. Casou com Isabel Brandão Carvalhais em:




a) 1939


b) 1941


c) 1942


d) 1940






8. Os primeiros filmes que ia ver, quando era criança, eram de:




a) Charles Chaplin


b) Fritz Lang


c) Friedrich Murnau


d) Sergei Eisenstein





9. Na juventude, tornou-se conhecido como:



a) Desportista


b) Realizador


c) Escritor


d) Encenador





10. Antes de conseguir tornar-se um realizador de sucesso, virou-se para:



a) A produção agrícola da família


b) A produção industrial da família


c) A gestão de uma livraria no Porto


d) Um curso de cinema na Dinamarca






SOLUÇÕES:


1-C; 2-B; 3-D; 4-A; 5-C; 6-B; 7-D; 8-A; 9-A; 10-A




Quatro respostas certas ou menos:


Está na hora e começar a conhecer melhor a vida e obra de Manoel de Oliveira. Assim, poderá fazer boa figura à frente de amigos intelectuais.


Entre quatro e sete respostas certas:


Já não ficará "descalço" numa discussão sobre cinema português, mas não será mau que aperfeiçoe um pouco mais os seus conhecimentos.


Oito ou mais respostas certas:


Parabéns!

Você é um verdadeiro conhecedor da vida de Manoel de Oliveira. Ninguém lhe pode dar lições sobre este assunto.





A CARREIRA DO REALIZADOR CENTENÁRIO



  • 1942 - Aniki-Bobó

  • 1963 - Acto da Primavera (docuficção)

  • 1972 - O Passado e o Presente

  • 1974 - Benilde ou a Virgem Mãe

  • 1979 - Amor de Perdição

  • 1981 - Francisca

  • 1985 - Le Soulier de Satin

  • 1986 - Mon Cas

  • 1988 - Os Canibais

  • 1990 - Non, ou a vã Glória de Mandar

  • 1991 - A Divina Comédia
  • 1992 - O Dia do Desespero

  • 1993 - Vale Abraão

  • 1994 - A Caixa

  • 1995 - O Convento

  • 1996 - Party

  • 1997 - Viagem ao Princípio do Mundo

  • 1998 - Inquietude

  • 1999 - A Carta

  • 2000 - Palavra e Utopia

  • 2001 - Je Rentre à La Maison

  • 2002 - O Princípio da Incerteza

  • 2003 - Um Filme Falado

  • 2004 - O Quinto Império - Ontem como Hoje

  • 2005 - Espelho Mágico

  • 2006 - Belle Toujours

  • 2007 - Cristóvão Colombo - O Enigma

  • 2008 - O Vitral e a Santa Morta

  • 2008 - Romance de Vila do Conde

  • 2009 - O Estranho Caso de Angélica

  • 2009 - Singularidades de uma Rapariga Loira (em produção)


Baseado em texto de: VASCO VENTURA



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